terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O encantamento - Minha Mãe

Terceira Postagem

Essa postagem eu irei relatar o dia a dia e a dificuldade que passávamos. Primeiro tenho que explicar um pouco sobre a fuga da minha mãe para lá, um pouco da vida dela, as decisões que ela tomou, e também explicar a vida que nós tínhamos no Brasil em comparação com o que tivemos lá.

A família da minha mãe, durante anos, foi bastante rica, tiveram muito dinheiro, e em meados da década de 90 tudo que tinham, simplesmente virou pó, nesta época minha mãe já era casada e vivia com meu pai, minha irmã era recém nascida e eu tinha quatro anos. Ela havia graduado recentemente da faculdade, Relações públicas e meu pai já era formado à cerca de 10 anos em engenharia civil. Eles viviam bem até a eleição do Color e toda aquela loucura que a maioria das pessoas contam dessa época, depois de muito tempo na luta, com o plano real, meus país resolveram mudar para uma cidade na Bahia chamada Ilhéus, por dois motivos, primeiro pela minha saúde, sempre tive problemas de saúde sérios, principalmente problemas Asmáticos e alérgicos, então, nesta época, 1994 eu tinha 7 anos o Brasil estava prestes a conquistar seu tetra campeonato mundial de futebol. E o segundo motivo era o de mudar de vida, sair de Goiás tentar viver do turismo, em Ilhéus, e realmente sair desse estado que não prosperava diferente do turismo na Bahia.
Então mudamos, foi uma mudança difícil, pra mim principalmente, apesar de tudo ser em função minha e da minha irmã, as amizades nesse lugar era bem complicado, era uma cidade pequena e as pessoas, como eu sempre fui ahuaha “moreno” e ainda mais goiano, caramba aqueles bahianos acabavam comigo, sempre fui muito tímido, mas não vem ao ponto. Vou focar mais na vida dos meus pais.
A primeira decisão deles foi abrir um negócio, meu pai disse, vou abandonar minha profissão (ele era engenheiro civil), “está tudo muito ruim vou montar meu próprio negócio”, então meu pai na onda do turismo montou uma locadora de veículos, Rent a Car. Foi à segunda locadora de Ilhéus, pois bem, não durou muito tempo, em 2 anos o turismo não ia bem, com o dólar do plano real 1 real por dólar, os turistas europeus se afugentaram do Brasil. Então ele resolveu montar outro negócio, um boteco, o “Filé Miau”, mania de goiano achar que bahiano gosta de boteco igual goiano gosta de barzinho. Por bem ou por mal, essa historio de boteco até que deu certo por 1 ano e tals, mas depois ele se cansou dessa vida. Nesse meio termo, minha mãe, pensou em voltar a estudar, ela sempre adorou estudar, ela se virava lá dando aulas de inglês, sendo independente do meu pai, e sempre foi, então resolveu prestar vestibular na universidade federal de ilhéus. Prestou para Letras, simplesmente ela ficou em primeiro lugar no vestibular. Toda empolgada e motivada, ela foi frustrada pela ignorância do meu pai. Na época tínhamos a locadora e também tínhamos o bar, meu pai negou a ela um carro para ir a faculdade que ficava a 20 km da cidade, isso a frustrou de tal forma que ela se quer matriculou no curso.
Nesse meio tempo, isso já final de 1996, início de 1997, meu pai além de lidar com o boteco começou a mexer com venda de veículos e frequentemente ele comprava carros em Goiânia e trazia para Ilhéus para revender por um preço melhor, e assim durante esse ano nós fomos vivendo, além da renda do bar, já havia fechado a locadora e vendido os veículos que possuíamos. Essa era a justificativa de negar a minha mãe o direito de estudar na Federal de lá, pois ai, ela teria de ficar com outro carro e meu pai não poderia vender o carro.
Uma coisa que era marcante na minha mãe era sua admiração pela cultura americana e os EUA, todo filme, ela falava que queria mudar pra lá e chamava meu pai para morar lá, mas ele nunca gostou dos Eua e falava, “ir pra lá pra ser Cucaracha!! Ta louca?”
Bom ao longo desse ano as coisas entre eles não iam muito bem, pois bem, no final do ano meu avô, pai do meu pai, sofreu um acidente e quebrou a perna, então em dezembro de 1997, voltamos a morar em Goiânia, dessa vez com meus avós, pois, estávamos quebrados, então meu pai cuidava do meu avô doente da perna, minha mãe auxiliava eles, enquanto aguardávamos a finalização de um apartamento nosso no setor pedro ludovico em goiânia. Por bem, sogra e nora morando no mesmo teto não daria certo, então a construtora nos pagou um apartamento no setor marista e começamos a morar nesse pequeno apartamento de 2 quartos, mas que se reduzia a um porque o outro estava a nossa mudança.
Nessa mesma época, meu pai não conseguiu de forma alguma um emprego em Goiânia, todas tentativas falharam, então, por sorte ele conseguiu um emprego em Aracaju, Sergipe. Lá o salário era o dobro do daqui e dava condição dele enviar dinheiro e sustentar agente parcialmente, minha mãe, que nunca ficou parada, vivia trabalhando o dia todo dando aulas de inglês para indústrias como Imperial, Pepsi e cursos de inglês. Ela se matava de trabalhar e tirava uma renda satisfatória pra ajudar nas despesas em casa.
Depois de mais ou menos 6 meses meu pai estando em Sergipe, nós fomos visita-lo e passamos 20 dias com ele lá, voltou de lá pê da vida, descobriu alguns rolos dele lá com mulheres, tava pê da vida... bom com isso meu pai desesperou ficou por lá mais 3 meses e voltou a morar com agente.
Por sorte conseguiu um emprego aqui em Goiânia que ganhava cerca de 60% do que ele ganhava lá em Aracaju, e graças a deus saímos do edifício de um quarto que morávamos para nosso apartamento no setor pedro ludovico. Nesse período as coisas melhoraram. Minha mãe e meu pai juntos tinham uma renda melhor, além da renda do arrendamento da fazenda, então ela buscou melhorar sua remuneração pelas suas aulas e seu conhecimento ela quis iniciar uma especialização em Línguas estrangeiras, então fez uma pos-graduação em inglês se não me engano. Só que ai, dessa vez não era em uma federal, e sim numa universidade paga, então meu pai negou a ela qualquer tipo de ajuda financeira e disse que ela teria de se virar com o que ela ganhava para pagar a especialização, que era aproximadamente R$ 600 por mês. Esse foi o desencadeamento de um mau relacionamento, nesta época era 1999, virada para 2000, depois de um tempo ela concluiu sua pós-graduação, ambiciosa, ela não queria parar por lá, queria viajar pros Eua e fazer um curso de especialização em inglês para executivos, então no final de 2000 ela viajou pra lá.
Então meu pai querendo fazer uma média com ela, tentando sustentar melhor o casamento e não deixar as coisas piorarem, pagou pra ela parte da viagem ou tudo, não sei ao certo esse detalhe, então ela foi. Era um curso de dois meses. Ela foi, e meu pai ficou, o que eu percebia era que ele saia toda noite ... vai lá saber o que procurava hauhauah. Em fim... Durante esse tempo, ela fez seu curso conheceu os EUA e então se apaixonou, ficou de boca aberta. Ela falava assim “Felipe lá as pessoas são respeitadas, a mulher é independente, bem paga, as pessoas respeitam as mulheres, não é igual aqui no Brasil, você trabalha e recebe bem, e do jeito que as coisas vão entre eu e seu pai, acho que nosso casamento não vai durar muito.” Ela voltou determinada em separar do meu pai e ir em busca de seu sonho, fazer uma especialização nos eua, um MBA e ser totalmente independente e construir uma vida lá.
Posso pular a parte do divórcio, que não vem ao caso.
Então vamos direto para o pós divorcio, a venda dos imóveis que eles tinham conquistado em alguns dias, como terreno e do carro dela, ela juntou 30 mil reais e ai viajou com a minha irmã pros eua, quando chegou lá ficou com uma prima do meu pai que já morava por lá. Minha mãe já tinha providenciado a documentação necessária para iniciar o curso de MBA dela, e então mudou para uma cidade muito violenta nos Eua. Mas por sorte, ela conheceu uma família maravilhosa, e trabalhou como baby sister para eles, e com uma graça divina eles receberam minha mãe e minha irmã para morar com eles, e elas saíram da cidade violenta e foram morar com eles, essa família era um casal onde o marido era dentista e mulher dele ficava em casa cuidando das crianças com o auxílio da minha mãe. Minha mãe simplesmente adorou eles, e eles amaram ela e minha irmã, tanto que eles até emprestaram em torno de 10 mil dólares pra ela para não precisar de parar sua especialização MBA: International Trade. Ela além de cuidar dos dois filhos desse casal viajava toda semana 250 km até Providence, RI para assistir as aulas e voltava para lá. Era uma vida bem difícil. Depois desse ano que foi 2002, no final dele eu cheguei e ela teve de abandonar eles e conquistar sua vida em outra cidade, que eu mencionei anteriormente, Stanford, Connecticut.
Em Stanford, minha mãe passaria nos EUA sua pior e mais difícil fase da vida, para vocês terem noção, o aluguel do apartamento de 1 quarto, 1 sala e uma cozinha, era de R$1200 dólares, que era divido entre ela e a sua amiga Magda, minha 3º Mãe. Quatro pedaços de bife, onde morávamos era 9 dólares, coisas essenciais naquela região custavam horrores, tudo era muito caro, então em compensação minha mãe tinha de trabalhar muito mais para sustentar o adolescente de 16 anos e a filha de 12 e ela mesma, além de ter de pagar sua faculdade que era US$2000 por mês. Se imaginem nessa situação. Minha mãe trabalhava cerca de 80 horas semanais além de estudar. E o mais impressionante, as notas delas todas, eram A ou A+, era realmente, fantástico o que minha mãe fazia e ganhando em média 15 dólares a hora.
Coitada, além de tudo isso ela tinha de viajar os 200km toda semana para Providence, RI. E custear o combustível, que na época, recém atentando WTC, cara o petróleo havia disparado tudo estava inflacionado. Se não bastasse minha irmã e eu vivíamos em pé de guerra, nós tínhamos de cuidar da casa, pois ela e a minha 3ª Mãe viviam trabalhando e nós, como apenas estudávamos, tínhamos de arrumar e limpar a casa, lavar as louças, arrumar a nossa bagunça, e eu tinha que ter tempo de manter meu vício ocupado, Counter-Strike!! Hahaha
Bom mas as coisas não eram na maioria das vezes organizada assim, pois, eu e minha irmã brigávamos por um motivo, o computador, só existia um e eu tinha de alimentar meu vício, então nós dois brigávamos tanto por isso, mas como eu era maior, mais velho e mais forte, ela não atrevia a tanto, as vezes sim, mas não a maioria das vezes, então em resposta a isso, ela não arrumava N-A-D-A lá em casa, não arrumava mesmo deixava tudo sujo e tudo bagunçado, e eu “infantil” só fazia minhas obrigações, e geralmente ela sempre deixava as louças todas sujas, então como se não bastasse além das duas mães trabalharem que nem loucas, elas chegavam super-hiper-cansadas e ainda tinham de fazer jantar e lavar as louças.
Minha mãe diversas vezes chorava na hora de ir dormir porque não agüentava tanta pressão sobre ela, era muito difícil, algumas vezes eu acordava e fazia carinho nela pra ela acalmar.
A 3º Mãe coitada, conversava com agente direto pra vê se melhorava, mas minha irmã, ela era f-o-d-a, não a culpo, ela coitada em menos de 2 anos já tinha mudado de escola somente 8 vezes, será que é possível? Sofria muito com tudo aquilo também ela era muito jovem, a ausência do meu pai, fazia ela chorar e sofrer muito, então era tudo extremamente difícil.
Isso é um exemplo de como as coisas iam por lá. Meu pai, na época mandava equivalente a R$1800,00 por mês pra nós, todos os meses, mas o dólar na época estava em torno de R$3,00 a R$4,00 então não dava mais do que US$600,00, era o aluguel...
Agora, imagina nós que a vida toda tivemos um padrão de vida classe-média no Brasil, crianças, tínhamos de suportar todas essas necessidade, lazer pra nós não existia, para pesar mais ainda, nesses 6 meses nos passamos o pior inverno dos últimos 50 anos, realmente foi pesado. Então nem sair de casa rolava. Eu ainda trabalhava tirava uhns 250 dólares por mês, mas eu investia tudo em peças de computador e pagava a internet... e o telefone, lanchava na escola...
Depois desses seis meses de sofrimento, voltamos para o Brasil para passar as férias, foi a melhor que eu já tive em toda minha vida, nunca esquecerei dela. Mas não vem ao caso.

2 comentários:

Lobato disse...

E kra e eu reclamando de ir ali na UFG... Mas a vida é essa aí, grandes desafios!

Unknown disse...

Felipe, meu irmao!
Nossa...realmente me choquei relembrando nossa vida...bom...nao sei o que dizer! Hehe...
Soh digo gracas a Deus que ja passamos daquela faze horrivel e super dificil...+ nao quer dizer que estamos livres de qualquer desafio pela vida! infelizmente a vida como dizem: tem altos e baixos...
Com voces todos, minha mae, voce e meu pai, aprendi a batalhar muito para consegui o que realmente desejo, e nunca desistir...desistir eh a pior coisa da vida e foi que eu ja cometi! Se eu nunca tivesse voltado pro Brasil depois daquela epoca tao dificil de nossas vidas, e ter aguentado firme mesmo sofrendo o cumolo...eu nem taria aqui hoje e estaria praticamente prestando vestibular em uma area que desejo ou ate na facudade, e pronta pra tirar carteira e ter meu proprio carro e praticamente minha vida + morando com vcs...INFELIZMENTE, a anta aqui voltou na hora erradissima... Mas tudo bem, de novo: "A vida tem altos e baixos", eu, as vezes nao me perdouo por isso, mas me perdoudo por ter entendido o que a vida realmente eh, e ter passado por tudo isso! Se vc deixar tudo pra ultima hora; como dizem, esta FUDIDO! REALMENTE!
Bom...com essa vida aprendi muito, e tenho muita coisa para ensinar meus futuros filhos e marido...gracas aos nossos pais e voce!
Eu te amo e piro pra caramba pra voce Felipe! hehe..
Muitas sauades de voce e do meu pai..muitas mesmo!
Um beeeijao pra vcs 2, e obrigada...=]